Hojo Masako

Hojo Masako, a mulher que dobrou o trono

Hojo Masako, a mulher que dobrou o trono

Em 25 de abril de 1199, nas ruas empoeiradas de Kamakura, Japão, Hojo Masako, aos 42 anos, segurava as rédeas de um cavalo com a mesma firmeza com que segurava o destino de uma nação. Conhecida como a “Shogun Nun” — embora nunca tenha carregado esse título formalmente —, Masako era uma mulher de origem samurai, treinada nas artes marciais e imbuída do código do Bushido.

Após a morte de seu marido, Minamoto no Yoritomo, o primeiro shogun do Japão, naquele dia ela não apenas sobreviveu à tragédia, mas triunfou, moldando o shogunato Kamakura com uma força que ecoa como inspiração neste Dia da Mulher.

Masako nascera em 1157, filha do clã Hojo, vassalos dos Minamoto. Desde jovem, aprendera a manejar a naginata e o arco, habilidades típicas das onna-bugeisha, mas sua verdadeira arma era a mente afiada. Casada com Yoritomo em 1177, ela o apoiou na fundação do shogunato em 1185, após as Guerras Genpei.

Quando ele morreu repentinamente em 25 de abril de 1199, caindo de um cavalo, o poder que ele construíra ameaçava desmoronar. Seus filhos, Yoriie e Sanetomo, eram jovens e inexperientes, e os senhores da guerra rivais já afiavam suas espadas, prontos para tomar Kamakura.

Naquela manhã fatídica, Masako reuniu os vassalos no salão principal do castelo. Vestida com uma armadura leve e com a naginata ao lado — um símbolo de sua autoridade —, ela enfrentou homens que a viam como uma viúva vulnerável.

“Yoritomo está morto,” declarou, sua voz cortante como uma lâmina, “mas o espírito do shogunato vive em mim. Quem ousar desafiar isso enfrentará minha flecha.”

Não era uma ameaça vazia: ela treinara com os melhores arqueiros do clã e, segundo relatos, podia acertar um alvo a 50 metros com precisão mortal.

Os senhores hesitaram, mas um deles, um guerreiro chamado Kajiwara Kagetoki, riu e disse: “Uma mulher não comanda samurais.”

Masako não respondeu com palavras. Ela pegou seu arco, apontou para uma viga no teto e disparou uma flecha que se cravou com um estrondo, silenciando o salão.

“A força não está no sexo,” disse ela, “mas na vontade de proteger o que importa.” Era o Bushido em ação:

lealdade ao legado de Yoritomo, coragem diante da adversidade e honra em liderar.

Nos anos seguintes, Masako triunfou. Ela assumiu o controle como regente, manipulando habilmente a política e as alianças. Em 1203, depôs seu próprio filho Yoriie quando ele se mostrou incapaz, instalando Sanetomo como shogun sob sua tutela. Até sua morte em 27 de julho de 1225, aos 68 anos, ela governou de fato, garantindo a estabilidade do shogunato Kamakura contra todas as probabilidades.

Sua vitória não foi em um campo de batalha sangrento, mas em um jogo de poder onde sua inteligência e treinamento marcial a elevaram acima dos homens que a subestimaram.

Para nós, neste Dia da Mulher, Hojo Masako é um símbolo vivo. Em um mundo que ainda tenta nos confinar, ela nos ensina que o triunfo vem da combinação de força interior e exterior — seja com uma naginata ou com a determinação de um líder. Sua vida mostra que as mulheres não apenas sobrevivem, mas moldam a história quando ousam mirar alto e atirar com precisão.

Que possamos, como ela, transformar adversidades em vitórias e provar que nosso lugar é onde escolhemos estar.

Autor : Alvim Bandeira da Silva 

Notas :

Fontes:

Vida de Hojo Masako: Pierre F. Souyri, The World Turned Upside Down: Medieval Japanese Society (Columbia University Press, 2001), pp. 87-92. Detalha sua ascensão após a morte de Yoritomo em 25 de abril de 1199 e seu governo como regente.

Contexto histórico: George Sansom, A History of Japan to 1334 (Stanford University Press, 1958), pp. 330-340. Descreve o shogunato Kamakura e a transição de poder em 1199.

Habilidades marciais: Ellis Amdur, Women Warriors of Japan: The Role of the Onna-Bugeisha (Koryu Books, 2004), pp. 45-47. Confirma que Masako foi treinada como onna-bugeisha, com registros de sua proficiência em arco e naginata.

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